segunda-feira, 8 de março de 2010

8 de março, Dia Internacional da Mulher

Professor Ruzel Costa *
O Dia Internacional da Mulher é um marco na história contemporânea, que reafirma todas as metas alcançadas pelas mulheres até os dias atuais, mas surgem dúvidas sobre a origem do dia. Jornais e artigos de instituições de ensino superior do Brasil e da Améri- ca Latina e órgãos da imprensa têm dado espaço para divulgação desses estudos que questionam a conhecida data.
Segundo a versão mais difundida sobre a origem do Dia Internacional da Mulher, esta data seria uma homenagem às operárias mortas num incêndio que teria ocorrido numa fábrica têxtil de Nova York, em 1857.
Mas para pesquisadores como Vito Giannotti, Naumi Vasconcelos, Dolores Farias e Eva Blay, a "verdadeira" história do 8 de março é outra e a alegada tragédia de 1857, quando 129 operárias teriam sido queimadas vivas, não passa de uma ficção.
Em 1982, duas pesquisadoras francesas Liliane Kandel e Françoise Picq, demonstraram que a famosa greve feminina de 1857, que estaria na origem do 8 de Março, pura e simplesmente não aconteceu, não vem noticiada nem mencionada em qualquer jornal norte-americano, mas todos os anos milhares de órgãos de comunicação social contam a história como sendo verdadeira.
A origem do Dia Internacional da Mulher insere-se em um contexto histórico e ideológico muito concreto. Buscando na história sobre o universo feminino, foi somente a partir da Revolução Francesa, em 1789, que as mulheres passaram a atuar na sociedade de forma mais significativa, reivindicando a melhoria das condições de vida e de trabalho, maior participação política, acesso à instrução e à igualdade de direitos entre os sexos.
Em 1791 a jornalista, ativista francesa Olympe de Gouges escreve o panfleto Declaração dos direitos da mulher e da cidadã, um modelo feminizado e provocador da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789. Nele ela conclama as mulheres à ação – “Ó, mulheres! Mulheres, quando deixareis vós de ser cegas?”, numa crítica à desigualdade entre os sexos. Olympe foi julgada e condenada à guilhotina.
Em 1907 a ativista alemã Clara Zetkin encabeçou a realização do I Congresso de Mu- lheres Socialistas, ocorrido na Alemanha, o que impulsionou definitivamente a partici- pação das mulheres nas questões políticas e contribuiu para as primeiras conquistas da mulher operária.
Em 08 de março de 1910, por proposição da própria Clara na II Conferência Internacio- nal das Mulheres, realizada na Dinamarca, foi aprovada a criação do Dia Internacional da Mulher.
O dia 8 de Março só foi oficializado pela ONU como Dia Internacional em 1975.
A situação em relação à mulher, no geral teve progresso. Mas em diversas regiões do planeta encontramos ainda situações de intolerância e descrédito, como em países do Oriente Médio, da África e Sudeste Asiático onde alguns grupos étnicos praticam a mutilação genital feminina, ou seja, a retirada total ou parcial dos órgãos sexuais. Segundo a ONU a incidência de mutilação feminina caiu nos últimos anos no mundo, mas estimativas da Organização indicam que entre 120 milhões e 140 milhões de meninas e mulheres foram submetidas a esta prática dolorosa e perigosa que é alimentada por preconceitos sociais e religiosos.
Ainda é prevalente na Índia o costume do dote, e muitas famílias não conseguem pagar dote para casar várias filhas, por isso os indianos preferem filhos do sexo masculino.
A Anistia Internacional calcula que cerca de 5 mil mulheres são mortas anualmente na Índia em disputas familiares por dotes de noivas
Em seu livro, “The Argumentative Indian”, o economista indiano Amartya Sen, vencedor do Nobel de Economia de 1998 calcula, baseado em várias pesquisas, que exista um déficit de mais de 100 milhões de mulheres na Índia e China, países que mais praticam esses abortos seletivos.
Em Uganda, na África, a lei reconhece ao homem o direito de bater na mulher.
Na América Latina e Caribe, a violência doméstica atinge entre 25% a 50% das mulheres.
O Brasil encontra-se entre os países do mundo que mais exportam mulheres para o mercado exterior da prostituição. Mulheres são levadas clandestinamente, iludidas com promessas de emprego e bons salários.
Desde 1999, a Organização das Nações Unidas (ONU) proclamou que 25 de Novembro o Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra as Mulheres.O dia 25 de novembro foi escolhido para destacar o brutal assassinato das irmãs Mirabal (Patria, Minerva e Maria Teresa, conhecidas como “Las Mariposas”), opositoras da ditadura de Rafael Leônidas Trujillo, na República Dominicana, em 25 de novembro de 1960.
Creio que grande parte das mulheres, independente ou não dessas datas comemorativas, deveriam ser respeitadas, reverenciadas. Coloco em particular as mulheres apenadas ou ex-apenadas, pois merecem ser vistas e enxergadas pela sociedade, elas fazem parte da população e do povo brasileiro.
Sabemos que a presa, em sua condição de mulher, sofre discriminação por parte da sociedade em geral, o que dificulta mais ainda uma disputa de vaga de trabalho após o cumprimento da pena. Muitas vezes a prisão para as mulheres é pior do que para os homens, pois deixam suas casas, seus filhos.
O que elas querem é apenas mais uma nova oportunidade para recomeçar a viver novamente nessa sociedade tão desigual.
Colocar em dúvida ou derrubar o mito de origem da data 8 de Março não implica na desvalorização do significado histórico que este adquiriu. Muito ao contrário. Significa enriquecer a comemoração desse dia com a retomada de seu sentido original - a igualdade em seus direitos e deveres.


*Professor Ruzel Costa leciona na Faculdade Faro, Colégio Objetivo e Escola de Ensino Fundamental e Médio Enio Pinheiro

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